O Free Jazz em Sampa, paixão explícita!!!

No último post do ano, gostaria de falar sobre um trabalho extremamente especial…Todos nós envolvidos na produção do Free Jazz já tentamos encontrar uma explicação para amar (até hoje) de paixão um evento no qual você não dormia mais do que três horas por dia durante o festival todo, trabalhava feito um maluco, convivia com todos os tipos de egos e manias, bandas de todos os estilos e comportamentos, tinha que tornar possível a convivência entre os mais diferentes riders técnicos e stage maps na mesma noite, trocar de palco em exatos quinze minutos e deixar todo mundo feliz no final da noite!!!…rs.

Posso dizer seguramente, que ao lado do Blues Festival (espero que ele ainda volte em novas edições) o Free Jazz foi simplesmente um vício! Todos os anos nós já sabíamos exatamente o que iria acontecer em termos de organização e procedimentos técnicos, por isso procurávamos manter sempre os mesmos caras nos mesmos stages, caso todos pudessem integrar a equipe (só não fazia quem estivesse “on tour” com seu artista ou trancado em estúdio). Nos últimos quinze ou vinte anos participei de boa parte dos principais festivais de jazz pelo planeta como engenheiro de monitor do Milton, e sem dúvida nenhuma o Free Jazz paulistano foi de longe um dos melhores, na minha opinião lado a lado com o de Montreal no Canadá e o velho e bom Montreux Jazz!

O suporte técnico da Gabisom nos permitia sempre uma operação segura, confiável e cheia de opções de consoles, monitores, periféricos e qualquer outra necessidade para atender aos mais variados stage maps e exigências. Outra coisa muito produtiva no Free é que cada palco foi criando a sua identidade sonora, sua equipe e seu modo operacional com o passar do tempo, e é por isso que tentamos manter sempre os mesmos times. O festival, além de uma aula de música, sons e estilos, também foi uma prova viva que a fórmula concepção+organização+dedicação é o caminho mais curto para um resultado final eficiente. Todo o “circo” era capitaneado pelo Pena Schimdt e sua Stage Brainz, o que já garantia boa parte da paranóia operacional do evento…rs. Falar dos artistas e bandas (nacionais e internacionais) que se apresentaram por todos esses anos no Free não é necessário, mas com certeza, ressaltar tudo o que aprendemos com muitos deles é no mínimo justo, mesmo porque eles também adoravam o tratamento VIP que recebiam pela equipe daqui!!!

Um grande barato do evento também era o nosso encontro no café da manhã, almoço e jantar no backstage, onde trocávamos meia hora de papo e informações sobre os diferentes stages, bandas, os problemas e suas respectivas soluções, onde nos integrávamos mais ainda com o crew internacional e, principalmente, confirmávamos com as equipes dos outros palcos o que seria “imperdível” em suas programações a cada noite.

O meu trabalho rolava no palco “New Directions”, que sempre nos reservava grandes surpresas e não troquei por nenhum outro! Tecnicamente bem estruturado, tinha um set básico muito eficiente no monitor (Yamaha PM 4000, Clair Brothers, Klark Teknik), um set básico de bom humor, sorriso na cara, tratamento VIP e o melhor horário do evento: das 19:00 as 21:00 hs. Tudo isso somado a quantidade de amigos, técnicos reunidos e gente bonita circulando me faz declarar publicamente essa paixão pelo nosso “stagezinho do Jockey Club” que deixou muita saudade…rs.

Um Natal de muita Paz pra todo mundo, e que venha 2012, com muito Som e bons papos!!!

Abraço especial de Natal do Farat!!!

Milton Nascimento…

Peço licença aos envolvidos nesse espaço, para um momento só meu, de tietagem explícita e até meio egoísta eu diria, mas se existem coisas na minha vida profissional que eu deva idolatrar e celebrar, uma delas chama-se Milton Nascimento!!! Hoje não quero falar de técnica, mas daquela história sobre estar na hora certa e no lugar certo… Isso pode mudar a vida da gente de uma tal maneira que se torna complicado resumi-la em algumas linhas de uma tela de 17 (ou mais, ou menos) polegadas.

Eu tinha um certo sonho na vida profissional, que era fazer o monitor da Elis, que infelizmente foi embora muito cedo e eu não tive tempo de participar de nada on stage com ela, mesmo que por tabela… Um belo dia pinta o convite, feito pelo Roberto Marques: “quer mixar o monitor do Milton???”… Fala sério galera, olha a compensação que o CARA lá de cima mandou pela ausência da Elis na minha vida profissional… Fiquei alucinado, era sensacional a idéia de mixar o Milton!!! Lá fui eu pra Minas (Pouso Alegre se não me engano) pro meu primeiro show…

Bom, minha estréia foi tão boa, que além ter sido no pior ginásio que eu já operei som na minha vida (se você passar por lá hoje ainda deve estar ecoando “Maria Maria” pelas paredes), eu ainda tive que enfrentar o cara emburrado, sem falar comigo depois do show e querendo o antigo engenheiro de volta…rsrsrs!!! Mas foi apenas o susto… O que se seguiu nos quase oito anos de Milton Nascimento mudou radicalmente a minha vida profissional, meu gosto e cultura musical e minha sensibilidade atrás de uma mesa de monitor…

Do final da Tour “Txai” até a volta aos palcos com a tour “Tambores de Minas” foram indescritíveis os caminhos pelos quais a “caravana” passou, sob a regência insana e atrevida do inesquecível Marcinho Ferreira… Músicos como João Baptista, Robertinho Silva, Túlio Mourão, Lelei e Ronaldo Silva, Lincon Cheib, Kiko Continentino, Hugo Fatoruzzo, Nivaldo Ornelas, Luiz Alves, entre muitos outros, levaram o som do Milton para todos os lugares do planeta… Foram fantásticos momentos, como o show no Royal Albert Hall de Londres com a Royal Philharmonic Orchestra, a Missa dos Quilombos em Santiago de Compostella, todos os grandes Festivais de Jazz do circuito internacional, especiais com Tom Jobim, participações de Jon Anderson, James Taylor, entre muitos outros (“muitos outros” que incluem até uma inesquecível dobradinha com o Jethro Tull em uma fazenda na Suíça), e até uma tour pelo interior de Minas, em lugares que ninguém imaginava o Nascimento cantando…rs.

Quem viu, por exemplo, “Beatriz” apenas com o Fatoruzzo no piano e o Milton na voz, na gravação do “Planeta Blue na estrada do Sol”, ou a versão de “Cálice” na tour Ângelus, não sabe, mas nunca mais vai rolar nada parecido em um stage da MPB tão cedo… Mixar Milton era sensacional… Uma voz “do além”, mágica… Cabe em qualquer mixagem, em qualquer stage… Se o cara cantar “Atirei o Pau no Gato” fica de arrepiar…

Eu agradeço muito a honra de ter feito parte do crew do Milton, ter tido o seu respeito, sua confiança, e talvez, por mais que ele possa desconhecer o tamanho e proporção disso tudo, minha vida profissional jamais seria a mesma sem esses anos fantásticos como engenheiro da banda, anos de aprimoramento técnico e reciprocidade…

A palavra “gratidão” tem dois significados: um antes e outro depois de Milton Nascimento… Te amo cara!!!

Até o próximo…