“Sir” Cesar Camargo Mariano…

Três discos que gravei em 1993 no Artmix (console Harrison, multitrack Otari 24 canais, 30 ips/no Dolby) me proporcionaram um grande prazer: trabalhar com o César Camargo Mariano (http://www.cesarcamargomariano.com). Os trabalhos foram: Natural (Cesar Camargo Mariano), Coisas do Brasil (Leila Pinheiro) e Nós (Leny Andrade e Cesar Camargo Mariano).

Gravar com o Cesar é uma experiência sensacional, pois além da musicalidade abundante a gravação torna-se uma verdadeira aula de organização e disciplina, marca registrada desse cara que admiro muito. O cd Natural teve a participação do Pique Riverte (sax e flauta), Walmir Gil (trumpete e flugel), Marcelo Mariano (baixo), Pantico Rocha (bateria) e Luiz Carlos (percussão), uma banda super competente e muito integrada aos teclados e ao trabalho do Cesar. O repertório (Maracatu Atômico, Manhã de Carnaval, A Felicidade, Choro for Clare, Trocando em Miúdos, O Nosso Amor, Zazueira, Endlessly, Pamela, Tristeza de Nós Dois e Curitiba) muito bem selecionado, retrata o mais puro CCM… Vale a pena ouvir!

O cd Coisas do Brasil (Leila Pinheiro) na minha opinião, foi uma grande virada na carreira da Leila, pois vai de Dori Caymmi à Lulu Santos, passando por Chico Buarque, Baden, Vinícius, Ivan Lins & Vitor Martins, Martinho da Vila, Benjor, Renato Russo e Edson Trindade (quem nunca curtiu “Gostava Tanto de Você?…” rs). Mais um banho de produção do César e o prazer de trabalhar com a Leila, uma artista que respeito muito e passei a admirar mais ainda depois deste cd. A banda do disco é formada pelo Pedro Ivo (baixo), Cesinha (bateria), Álvaro (violão), Proveta, François, Gil, Cacá e Tenisson (metais) e o Luiz Carlos (percussão).

O terceiro cd “Nós” é um duo maravilhoso de piano e voz do Cesar com a “primeira dama” Leny Andrade, que dispensa qualquer tipo de comentário, a não ser o quanto à figura da Leny é bárbara, como artista e pessoa. Pegando uma carona nos agradecimentos do encarte (“Agradeço a Leny por ter me proporcionado a realização de dois prazeres: o de acompanhar e o de acompanha-la”. – CCM), agradeço ao Cesar a oportunidade de termos trabalhado juntos nesses projetos e principalmente por esse “workshop” de dedicação, disciplina, competência e amor à música.

Até Março galera!!!

A minha (ops… a nossa!!!) “Universidade Livre de Blues” …

O Blues Festival…

Sem nenhuma dúvida, de todos os eventos e festivais multi-bandas que participei, os mais especiais foram as edições do Blues Festival sob a batuta do produtor César Castanho e produção técnica do “Mago da Paranoia” (saudável e competente paranoia, é claro, onde “não errar” é o lema!!!) on stage Pena Schimdt … Fiz parte da equipe técnica como engenheiro de monitor nas três datas, e o que é melhor, as bandas de blues geralmente não viajam com equipe! Desde o primeiro evento em Ribeirão Preto (com a parceria do Hamilton Micca Grieco no PA e um festival de canjas no hotel depois do evento com caras correndo pelos corredores tocando sax e até com viola caipira caindo no blues), passando pelo segundo no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo e a edição “Sesc in Blues” em São Carlos (com as mixes do Carlinhos Freitas), descobri nesses caras uma humildade completamente proporcional ao que eles representam para a história da música mundial.

Aprendemos muito com bandas do calibre de um Albert Collins, Magic Slim & The Teardrops, Etta James, Otis Clay, John Hammond, Eddy Clearwater, Bo Didley, B.B.King (este nunca participou das edições de Ribeirão, São Carlos & Sampa do festival, mas fez alguns concertos memoráveis no Brasil), André Cristovam, Flávio Guimarães, Frejat, Ed Motta e a nossa ótima e cheia de outras feras Brazilian Blues All Stars, entre muitos outros. Uma verdadeira aula de humildade e amor pela música que fazem. Até alguns desafios na parte técnica foram muitos bem superados como, por exemplo, deixar os caras à vontade em um stage gigantesco como o Ginásio do Ibirapuera em Sampa, já que os “Clubs” e stages menores tem muito mais a ver com a sonoridade que essas bandas gostam pra tocar.

Alguns shows (na verdade, todos eles) foram bárbaros… O Albert Collins com um Twin Fender queimado no primeiro acorde do show, transformou um Jazz Chorus num amplificador de blues, a gente olhava e não acreditava no que estava ouvindo, o John Hammond de violão de aço, harmônica e voz para um público de 15.000 pessoas no primeiro dia no Ibirapuera, a verdadeira celebração que foi o show, ou melhor, a celebração do Otis Clay em São Carlos e um muito especial: uma banda chamada Saffire!!! Três mulheres infernais que roubaram a cena no Sesc: Ann Rabson, Gaye Adegbalola e Andra Faye, que fazem uma apresentação muito espirituosa de blues clássicos no melhor do acústico. Enfim, um projeto muito legal que já deveria ter sua edição anual garantida. Uma verdadeira aula de postura e história da música.

B.B.King…

Ouvindo o CD “Deuces Wild” do B.B.King me lembrei dos shows históricos que ele fez no Olympia em Sampa. Foi muito engraçado… Estávamos eu e o Roberto Marques com o equipamento alinhado desde as dez da manhã e nada de aparecer alguém da banda pro soundcheck. Quando bateu umas quatro da tarde, pinta aquele maluco do trumpete (não se sabe até hoje como a cabeça dele para no pescoço…rs) e disse que só ele viria passar o som e nos orientar quanto a mix da banda, que só chegaria ao Olympia meia hora antes do show.

A mix de monitor era a seguinte: os caras só queriam os próprios instrumentos nos monitores e muita guitarra e voz do BB pra todo mundo. Os caras tocavam tão perto uns dos outros que parecia mais uma sala de ensaio do que o stage do Olympia. Conforme o combinado, meia hora antes do show chega todo mundo, já trocados pro show, entram no palco, dão aquela arrumada na afinação e mandam apagar as luzes e abrir as cortinas.

O que se viu naqueles dois dias de concerto foi uma banda infernal num verdadeiro banho de blues!!! Duas coisas muito especiais: a humildade e simplicidade do B.B., que saia do palco e vinha direto pra mesa de monitor agradecer o trabalho da técnica, antes mesmo de falar com o empresário, e um cara que eu fiquei muito fã (e que por uma ‘incompetência master’ da minha parte, não me lembro o nome dele agora) nos teclados, que tinha 40 anos de órgão Hammond e me fez deixar um pouco de lado (só por duas noites, é claro…rsrsrs) meu ídolo John Lord… Quem viu, viu!!!… Mais ou menos como o Queen no Morumbi em 1980!!!

Abraço do Farat!!!